Apesar do clima tropical, a madrugada era fria, a calçada mais fria ainda. Uma chuva fina acabara de cair, deixando um aspécto de noite sulista; a diferença estava na ausência da garoa. Indiferente àquele cenário, encolhido, mal vestido e sem um pedaço de lençol, sequer, permaneceu por toda noite, na calçada, dormindo como um "anjo", o menino que perambula pelas ruas sujas e fétidas da metrópole. No Brasil (não importa onde) é assim: pessoas dormem na calçada como se estivessem bem-acomodadas em luxuosas camas.
Essa rotina do menino, que mais tarde soube chamar-se "Caroço", não é privilégio dele. São centenas de "Caroços", espalhados pelos becos, avenidas e praças. A casa é a calçada mais próxima, a partir do momento em que o sono avisa que chegou a hora de parar... A cama é o local que estiver disponível, entre tantos concorrentes, como outros "Caroços", carros, caixotes, sacos de lixo, carroças, enfim.
Enquanto isso, do outro lado da rua ou do bairro, nas Alamedas, nos Edifícios, nos arredores arejados e verdes da cidade, cobertos de proteção, dormem, indiferentes, aqueles que ainda dizem estar promovendo ações sociais. O luxo e a miséria convivem, lado a lado, sem que haja sentimento de dó, preocupação ou paternidade. É como se nós, pobres mortais, não tivéssemos entendido a mensagem do PAI.
Se prestarmos um pouco mais atenção, à foto acima, vamos perceber que o garoto dorme, solitário, mas troca um abraço solidário com um pequeno animal (gato ou cachorro?), outro tipo de moradores de rua. Apesar dos apelos, o número de pedidos de adoções não cresce. Ainda que cresça, o fosso entre os meninos de casa e os meninos de rua vai continuar existindo. A dimensão desse fosso reflete a dimensão das diferenças sociais nesse país continental.
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