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    quarta-feira, 8 de julho de 2009

    "FUTEBOL-NEGÓCIO" GERA MAIS PERNAS-DE-PAU QUE CRAQUES

    Tudo muda com o tempo. Algumas mudanças são bem-vindas; outras, nem tanto. No futebol, de todas as mudanças, só a qualidade técnica dos jogadores não sofreu significativa melhora. O avanço da tecnologia; que gera facilidades; que proporciona mais ganhos; que mexe com a economia é uma cadeia positiva. Ao contrário, a pressa por resultados, a especulação, a competição desleal, o toma-lá-dá-cá que coloca a qualidade (de quase tudo) em dúvida é uma cadeia negativa.

    Ao longo dos anos, o futebol tem experimentado todo tipo de evolução: organização burocrática, mudanças nas regras do jogo, mudanças na relação entre jogadores e clubes, supervalorização dos salários, evolução técnica e tática, melhoras estruturais nos estádios, visibilidade em novas mídias e maior tempo de cobertura - inclusive na TV.
    Curiosamente, o futebol só não evoluiu na essência, isto é, na simplificação da busca e formação de novos valores. O número de campos de areia (foto) diminuiu (por causa da especulação imobiliária), os clubes adotaram as divisões de base e dificultaram, ainda mais, a descoberta de craques natos, oriundos das favelas, dos bairros distantes e das cidades pouco conhecidas.
    Dos campos de várzea, sem gramado, saíram os melhores craques da história do futebol. Pelé é o principal exemplo de todos. O nível técnico daquelas épocas (...60, 70, 80...) era tão bom que o garoto precisava jogar muito para conseguir espaço até mesmo na várzea. O próprio Pelé perambulou por alguns clubes antes de ficar no Santos Futebol Clube.
    Hoje, sem campos de várzea, sem futebol bretão, pelada, baba, jogo de bola, futebol de areia (como queiram), os clubes mais organizados montam verdadeiras fábricas de jogadores. Terminam excluídos os pretendentes mais pobres, que não podem bancar a desejada aventura, e os que não fazem parte dos esquemas dos "donos" de Direitos Federativos.
    Com essa modernidade, ficam fora, muitas vezes, jogadores de boa qualidade técnica. Ficam dentro, certamenmte, jogadores limitados, muitos pernas-de-pau, mas encaixados no perfil do "futebol-negócio". Resultado: altos investimentos em contratações x baixo rendimento das equipes em campo. Essa linha de raciocínio foi logo percebida por um garoto, de 16 anos, de um dos clubes de Fortaleza, angustiado com os critérios de avaliação.
    Ao me pedir ajuda, num recado ingênuo, o garoto até imagina que meu cartão de visita o salvará: "Estou indo mto bem nos treinos...mas infelizmente... fizeram uma coisa mto chata cmg! não me colocaram na relação, de quem viajava pra uma competição em xxxxxx, pra colocar um mlk mto fraco seu jota...fui treinar na segunda e na terça-feira, na esperança de está na relação de quem viajava... mas infelizmente... nada! na segunda... só fui treinar com o dinheiro de ida do onibus..."
    Prossegue ele: "O senhor teria como falar de mim pro xxxxxxxxx e escrever sobre mim, no seu blog? por favor... me ajude á realizar meu sonho de ser um grande jogador de futebol", encerrou o recado inocente, mas com o faro da realidade. Eu o encorajei a continuar treinando e estudando. Claro que não posso fazer o pedido sugerido por ele. Até porque entendo que ninguém apresenta jogador à bola; a bola apresenta o jogador à platéia.
    Confesso, no entanto, que acredito quando ele diz que foi trocado por "um moleque muito fraco" para viajar. Infelizmente, isso existe mesmo no futebol. Uma coisa, pelo menos, tenho de fazer: conferir se esse garoto joga mesmo a bola que diz jogar (também tem isso: muitos falam mais do que jogam). Se estiver dizendo a verdade, esses argumentos começam a ganhar números oficiais. Se estiver blefando, não deixará de estar contribuindo com a apuração dos fatos.

    Um comentário:

    WEIBER CASTRO disse...

    Caro Jota Lacerda,

    O que vc escreveu é a realidade mais pura e triste do futebol, não diria brasileiro, mas sim, mundial. É a arte perdendo espaço para o negocio.
    Parafraseando uma banda de rock nacional: " Homem primata, capitalismo selvagem".