Esta imagem triste não combina com Romário, ídolo da torcida brasileira; para alguns, abaixo apenas do Rei Pelé, quando o assunto é apontar o melhor jogador de que se tem notícia. Como atacante, Romário teve uma capacidade particular para driblar e enganar os zagueiros. Driblou até quanto pode as dores nos joelhos para se aproximar a Pelé no número de gols marcados. Driblou e encarou os baderneiros da arquibancada. Na Justiça Esportiva, provou que não se dopou; usou um produto para calvície. Mas, como tudo tem fim...
A carreira de Romário como jogador quase não terminou. Ele esticou enquanto deu. Quase se arrastou em campo para marcar 1.002 gols, bem menos do que desejava deixar como marca no final da carreira. Com a esperança de voltar a campo, Romário não fez jogo de despedida, mas as pernas negaram-lhe essa pretensão. Foi a primeira grande derrota.
As pequenas derrotas nunca tiraram o bom humor do atacante. Nem mesmo quando ficou detido, em 2004, por quase seis horas, no 16º DP, no Rio de Janeiro, em consequência de uma ação movida pela ex-mulher dele, Mônica Santoro, que cobrava dívida de R$ 140 mil de pensão alimentícia.
Agora, aos 43 anos de idade, Romário de Souza Faria já começa a sentir os efeitos do que antes encarava como pequenas derrotas. Pelo mesmo motivo de 2004, Romário dormiu numa cela do 16º DP, onde foi mantido por quase 24 horas, desde a tarde de ontem (14/7), até ser ouvido pela Justiça carioca e pagar os R$ 90 mil cobrados por Mônica Santoro.
Outros jogadores também já foram detidos por falta de pagamento de pensão alimentícia e até pela aplicação da Lei Maria da Penha (proteção a mulheres vítimas de agressão física). Desses males, o futebol não padece mais. Aliás, a sociedade brasileira aplaude a Justiça do Trabalho, as Varas de Família e a Lei Maria da Penha pela agilidade e objetividade das decisões.
O goleador virou cartola. Dessa vez, Romário de Souza Faria deixou de cumprir agenda em que estaria representando o América Futebol Clube, time da segunda divisão do Rio, que passou a ter o controle do ex-jogador. Na esfera do futebol, como cartola, ele poderá sofrer derrotas no campo. Fora dele, provavelmente, não será cobrado com tanta veemência pelas práticas comuns dos dirigentes. Portanto, não deverá sofrer grandes derrotas.
Que bom seria se a Justiça também funcionasse para cobrar e punir os dirigentes que dilapidam os patrimônios dos clubes; que negociam jogadores em condições nunca explicadas; que assinam contratos com salários exorbitantes e não pagam, gerando processos trabalhistas; que nunca prestam conta das arrecadações dos clubes; que praticam apropriação indébita; enfim...
Claro que estou falando dos casos denunciados publicamente e até dos casos que transitam pela Justiça. Basta lembrar o recente escândalo que quase liquidou o Corinthians (SP), derrubando-o para a segunda divisão nacional. E nem vou entrar nos casos de pedofilia nas divisões de base dos clubes, envolvendo dirigentes e preparadores. Quando muito, as denúncias caem no disse-me-disse.
Afinal, quando teremos uma Justiça igual, como o equilíbrio de sua balança símbolo?
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