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    terça-feira, 9 de junho de 2009

    AIR FRANCE: PERITO NÃO QUER ENCONTRAR CORPO DA FILHA

    O bombardeio de notícias sobre o voo AF 447, da Air France, chegou até meus ombros. Ontem, fui convocado para entrevistar o engenheiro mecânico, aposentado, Marten Van Sluys, 76 anos, perito naval, pai de Adriana Sluij, 40 anos, uma das 228 vítimas desse enigmático desastre aéreo, ocorrido no último domingo de maio. Adriana, que nasceu na Holanda "por acaso", falava quatro idiomas e viajava como assessora da Petrobras para a Coréia do Sul, com escala na França.

    Na cidade portuária de Busan iria representar a empresa numa cerimônia de entrega de um navio plataforma pelos sul-coreanos. Meia hora antes do embarque, no Aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro, Adriana falou com o pai, por telefone, disse que estava feliz, mas tinha medo de atentados. Marden a tranquilizou: "Essa rivalidade entre as Coréias é encenação".

    Depois disso, a notícia do sumiço do avião. O engenheiro juntou-se a amigos dele, especialistas em voos internacionais, para entender o que pode ter havido. Enfim, chegaram a uma hipótese mais provável: "Houve desatenção da tripulação; em seguida, um forte e surpreendente impacto; despressurização e queda livre", concluem.

    Nada fora de série, mas são hipóteses que sossegam o veterano homem do mar. Para Marden Van Sluys, tudo acabou. Quer guardar apenas a lembrança de uma filha brilhante. "Peço a Deus para que o corpo dela não seja encontrado - será melhor assim", fala resignado.

    TRECHOS DA ENTREVISTA

    DESATENÇÃO - Antes de desaparecer dos radares, o Airbus da Air France foi acompanhado de perto por um avião da companhia espanhola Ibéria, que desviou de seu trajeto original para evitar uma forte turbulência. Por que a tripulação da Air France não tomou a mesma decisão?

    ROTA DE COLISÃO - Quando percebeu a área de turbulência à sua frente, o comandante do IB 6024 desviou da rota e não viu mais sinais do AF 447 em seu radar. No espaço aéreo do Senegal também já não havia sinal do avião francês.

    DEMORA - Para o veterano perito, houve demora na reação da tripulação para uma situação que estava prevista, isto é, forte tempestade. Por que a demora?

    DESPRESSURIZAÇÃO - O forte impacto provoca ruptura da fuzelagem do avião. Destroços e corpos podem ser atirados a quilômetros de distância. Geralmente aparecem uma semana depois, como está acontecendo.

    EMOÇÃO - Depois de ter perdido a esperança, o holandês Marten Van Sluys prefere que o corpo da filha não seja encontrado. "Assim, seria melhor", garante.

    CARREIRA BRILHANTE - Adriana Sluij falava Português, Holandês, Inglês e Espanhol. Era solteira, querida entre os colegas e amigos, deixou pai e três irmãos. Todos tinham orgulho dela.

    Esta é apenas uma das 228 histórias que recheiam as notícias do voo 447, que saiu do Aeroporto Tom Jobim, na noite do dia 31 de maio/2009, com chegada prevista ao Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, na manhã seguinte, às 6h de Brasília. Todos ainda vivem a expectativa da notícia final.

    O Tribunal de Paris anunciou a abertura de um processo de "homicídio culposo", atendendo a pedido do Ministério Público local. De acordo com o tribunal, a investigação aberta não se dirige contra nada ou ninguém em particular. Salienta, ainda, que não foi indicado que haja qualquer evidência de criminalidade no caso.

    Colaboração e vídeo: Edinho Araujo.

    4 comentários:

    Unknown disse...

    Cara que furo de reportagem.
    Parabens.

    Anônimo disse...

    Nada como um perito que realmente lamenta o acontecido, pois perdeu uma filha, tem uma dimensão real da dor que esta sentindo.

    Parabéns pela entrevista.

    So9raya Piancó disse...

    grande furo jornalistico, enquanto os noticiários estão repletos de depoimentos de parentes lamentando justamente a perca de seus entes, o brilhante jornalista encontrou uma forma de extrair do pai de uma vítima, a mais inteligente forma de entender o que poderia ter acontecido com o voo e consequentemente com sua filha. Matéria fantástica, realmente digna de tão espetacular profissional.Parabéns sou sua fã.

    Anônimo disse...

    Muito boa e exclarecedora a reportagem. O acidente tem particularidas extremamente distintas. Principalmente quando encontramos em uma mesma pessoa o ponto de vista de quem entende do assunto nivelado a sensibilidade de quem perdeu alguem que encontrava-se no voo. O texto tb é muito bem escrito e com uma linguagem facil de compreender. Parabéns!!