Continua causando muita polêmica e teatrinho o novo caso de racismo no futebol, envolvendo o apoiador Elicarlos, do Cruzeiro, e o atacante Maxi López (foto), do Grêmio, durante a derrota dos gremistas, no Mineirão, por 3 a 1, na última quinta-feira, pelas semifinais da Libertadores 2009. Os próximos capítulos da "trama" podem ser filmados no dia 2 de julho, em Porto Alegre, quando acontecerá o jogo de volta.
Elicarlos acusou Maxi López de chamá-lo de macaco. A confusão em campo virou caso de polícia e se estendeu pela madrugada. Sem mostrar qualquer preocupação de se fazer entender, Maxi disse que as acusações de racismo, reveladas por Elicarlos, foram provocadas; que, em nenhum momento, usou a expressão “macaco” ou “macaquito” para se referir ao adversário.
– Tudo foi exagerado, colocado fora de contexto para desestabilizar e criar clima para o segundo jogo – afirmou o argentino.
No fim da década de 80, perguntei a Antonio Carlos dos Santos, o Vovô, fundador do bloco afro Ilê Aiyê, por que o bloco só desfilava com pessoas negras? A entrevista esquentou. Ele achou que eu tinha feito uma manifestação racista, mas enfatizou que a missão era manter as tradições culturais africanas na Bahia. Há uma forte associação cultural entre o bloco em si, o bairro da Liberdade (maioria negra), em Salvador, e a herança afro-descendente, é verdade.
Vinte anos depois, no entanto, o bloco Ilê Aiyê entendeu que a tradição pode ser mantida sem dividir, ou sem punir aqueles que lembram, pela cor da pele, os semeadores dessa "praga" chamada racismo. Mudou, mas priorizou o "ouro U$". Passou a aceitar pessoas brancas, desde que fossem estrangeiras. No Brasil, o racismo é assim - velado. Ninguém o assume, mas poucos não são racistas. Não seria o argentino Maxi López o primeiro a assumir, em público, um gesto racista.
Não trato racismo, apenas, quando a ofensa é contra a pessoa negra. Para mim, o racismo é um ato discriminatório de qualquer natureza. É claro, sempre se ouviu falar do domínio de raças. A raça branca sempre foi maioria, daí o conceito mais comum sobre racismo. Veja, por exemplo, o que cita o texto com o título "Um Olhar Afro-Americano Sobre a Questão Negra", publicado em http://gringostagarelas.blogspot.com/2008_05_01_archive.html
OUTROS CASOS DE RACISMO NO FUTEBOL
Grafite x Desábato
Na Libertadores de 2005, o atacante Grafite foi expulso no jogo entre São Paulo e Quilmes (Argentina), após empurrar o rosto do zagueiro Desábato. Ao deixar o campo, Grafite explicou o motivo de sua atitude: foi ofendido pelo argentino, que o chamou também de macaco. Revoltado com a ofensa do adversário, o atacante são-paulino prestou queixa. Désabato acabou detido após o jogo e só foi liberado no dia seguinte.
Tinga x Torcida do Juventude
Em 2005, o volante Tinga, que defendia o Internacional, também ouviu ofensas racistas. Porém, os gritos de "macaco" saíram da torcida do Juventude, num jogo realizado no Alfredo Jaconi, pelo Brasileirão. Ao contrário de Elicarlos e Grafite, Tinga não levou o caso à polícia e preferiu deixar o relato do ocorrido na súmula da partida.
Antônio Carlos x Jeovânio
Em 2006, o zagueiro Antônio Carlos, do Juventude, teria chamado o volante Jeovânio, do Grêmio, de macaco. O primeiro foi expulso, após agredir o adversário com uma cotovelada, e, ao sair de campo, teria chamado Jeovânio de "macaco" - esfregou os dedos no braço para indicar a cor do volante gremista.
Toró x Fernando Caballero
Na pré-temporada do Flamengo, em Teresópolis, em 2008, durante um jogo-treino contra o Huracán Buceo, do Uruguai, os jogadores rubro-negros acusaram o zagueiro Fernando Caballero de ofensas raciais. No primeiro tempo, o uruguaio se desentendeu com Toró e houve bate-boca. Ibson, defendendo o companheiro, gritou: "Não vem de racismo aqui"! Toró confirmou a ofensa ao final da partida. A palavra usada pelo uruguaio teria sido "macaco".
Eto'o x Torcida do Getafe
Em 2004, o camaronês Eto'o foi alvo de insultos racistas na partida entre Barcelona e Getafe, pelo Campeonato Espanhol. Cerca de 50 torcedores do Getafe imitaram macacos cada vez que o jogador tocava na bola.
Olisadebe x Torcida polonesa
Em 2001, durante um amistoso entre a Polônia e a Islândia, torcedores poloneses jogaram bananas no campo. Olisadebe foi o primeiro jogador negro a vestir a camisa da seleção polonesa e, apesar de números impressionantes, como marcar oito gols nas Eliminatórias para a Copa de 2002, foi alvo de insultos.
Balotelli x Torcida da Roma
O atacante italiano Balotelli estava num evento com a seleção italiana sub-21, em Roma, quando torcedores da própria Roma atiraram duas bananas no jogador. Balotelli foi parabenizado pelo treinador Casiraghi por ter minimizado o caso em vez de reagir.
Roberto Carlos x Torcida do Atlético de Madrid
Em 2005, no clássico entre Real Madrid e Atlético de Madrid, a torcida do Atlético imitava sons de macacos quando alguns jogadores, entre eles, Roberto Carlos, pegavam na bola. O caso foi parar na Federação Espanhola de Futebol, pois o clube pode ter sido cúmplice ao permitir que o som da torcida fosse ouvido no sistema de som do estádio.
Felipe x Paulo Carneiro
O elenco do Corinthians se acostumou a reclamar de atos racistas. O goleiro Felipe, que já moveu processo contra o ex-presidente do Vitória, Paulo Carneiro, reclama constantemente de insultos racistas por parte de torcedores. No ano passado, chegou a dizer que o racismo é comum no estádio Alfredo Jaconi, do Juventude.
Vamos parar por aqui. E para não ficar qualquer dúvida, digo logo que não estou de lado algum da questão. Gostaria que essas atitudes não existissem em lugar algum. Quem nunca foi incomodado por um "vigia-fiscal" durante suas compras em supermercados, em drogarias, até mesmo quando demora um pouco mais num estacionamento ou em frente a um prédio de luxo?
Infelizmente, essa é a consequência do "lixo humano" que nós próprios alimentamos.
Um comentário:
Absolutamente fantástico, como sempre lúcido e real nos seus comentários, já sentia saudades disso.
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