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    segunda-feira, 11 de maio de 2009

    JOTA LACERDA, UM ÍNCONE DO RÁDIO BRASILEIRO

    >> O jornalista Jota Lacerda (foto), comentarista esportivo da Rádio Globo de Fortaleza, no Ceará, conhece como poucos os segredos da comunicação radiofônica. Conterrâneo de Caetano Veloso e Maria Bethânia (Santo Amaro da Purificação), no Recôncavo Baiano, trabalhou durante vários anos na Rádio Sociedade da Bahia, outrora, uma das mais importantes emissoras do país. Foi na antiga PRA-4 que Lacerda adquiriu vasta experiência profissional atuando ao lado de grandes comunicadores. Remanescente dos extintos Diários Associados, a Rádio Sociedade foi vendida no início década de 80 para o empresário espanhol radicado no Brasil, Pedro Irujo. Passou por um processo de modernização aumentando sua potência para 100 quilowatts e contratando os melhores profissionais da época. Para dirigir a emissora, Irujo convidou ninguém menos que Alfredo Raymundo Filho- um dos mais respeitados administradores do rádio brasileiro- responsável por colocar a Sociedade em primeirissimo lugar na audiência. Hoje, a emissora já não é a mesma (pertence à Empresa Universal do Reino de Deus). Carece, portanto, de credibilidade e de bons profissionais. Alfredo Raymundo deixou a empresa em 85 assumindo a direção do Sistema Globo de Rádio em São Paulo. Atualmente é diretor da Rádio Tupi do Rio. Jota Lacerda, por sua vez, permaneceu na Sociedade durante algum tempo atuando como repórter e redator de notícias. Pouco depois seria convidado para integrar o Departamento de Esportes da casa. Certo dia, já não mais na Sociedade, recebeu proposta da Rádio AM do Povo de Fortaleza, no Ceará. "O telefone tocou e ouvi a seguinte pergunta:" - quer trabalhar em Fortaleza? No dia seguinte estava eu diante da minha nova coordenadora, revela. Crítico, e mesmo tempo espirituoso, o jornalista ainda acredita na força do rádio: “Mesmo contra a vontade dos malfazejos, o rádio AM vai continuar respirando, porque, depois da televisão, é o veículo de maior interatividade”. Na entrevista, Jota Lacerda também fala sobre política e cultura. Conclui dizendo que a poluição sonora que tomou conta da MPB é massacrante em Fortaleza. Por que você trocou a Bahia pelo Ceará? Foram muitos os motivos, entre racionais e emocionais, mas o principal deles foi o convite da jornalista Fátima Abreu, na época, coordenadora de programação da Rádio AM do Povo /CBN. Foi uma grata surpresa quando o telefone celular tocou, pouco depois das 8 horas da manhã do dia 5 de setembro de 1997, e ouvi a seguinte pergunta: Quer trabalhar em Fortaleza?”. No dia seguinte estava eu diante da minha nova coordenadora. Deixei tudo para trás e aqui estou tocando a vida. Nesse meio tempo muitas coisas boas ocorreram, inclusive, a mudança de cor dos cabelos. A Rádio Sociedade da Bahia foi a nossa grande escola, concorda? Realmente, tive a sorte de trabalhar com grandes profissionais ao longo desses 28 anos de atividade, mas a Rádio Sociedade da Bahia foi a grande escola. Além dos bons profissionais, tinhamos o grande mestre Alfredo Raimundo Filho, com quem aprendi muito. Lá, transmiti até "briga de galo", como repórter de externa. Colaborei na programação, como locutor substituto, fui redator do Rádio Repórter A-4, e terminei substituindo o nosso enciclopédia, Jorge Sam Martin, na equipe de esportes do clássico, Nilton Nogueira. Na tradicional emissora baiana você era considerado um repórter linha de frente tanto no jornalismo, quanto na área esportiva. Na prática, a experiência adquirida está sendo aplicada ao rádio cearense? Infelizmente, na contramão da realidade, as emissoras estão investindo pouco no rádio-jornalismo. Mesmo assim, pude dar uma boa parcela de colaboração na programação da CBN local e nacional, durante os 5 anos em que estive por lá. Depois de ter enfrentado resistências para mostrar que é possível ser repórter esportivo sem torcer, durante mais de 3 anos, virei comentarista, com a mesma linha: "Formar opinião", na contra-mão dos que defendem "torcer desinformando". E os grandes comunicadores da Rádio Sociedade, por onde andam? Francamente, perdi os contatos. Soube que o bom narrador esportivo, Dinei Monteiro, estava pelo interior de São Paulo. O professor, Moisés Azevedo, voltou para Cruz das Almas (BA); o comentarista Bola de Ouro, Armando Oliveira, partiu para a eternidade; o versátil apresentador, Léo Silveira, voltou para São Paulo; o sertanejo, Zé Renato, retornou de SP para Salvador; o intrépido repórter policial, Guilherme Santos, também voltou com força total, enfim... O chefe do jornalismo da Rádio Sociedade, Fernando Rocha, deixou mesmo um exemplo para os futuros repórteres ou ele era mesmo muito sisudo? Era o jeito dele. Era sisudo até mesmo quando queria ser carinhoso. Fora as broncas, aprendi com ele a exercitar um puro jornalismo, sem pieguices, com responsabilidade, o que nos custava muita adrenalina. Fale sobre algum acontecimento marcante quando você percorria a cidade de Salvador em busca de furos jornalísticos. Foram tantos. A visita do Papa João Paulo II, a morte de Mãe Menininha do Gantois, a morte de Irmã Dulce, enchentes no período de chuva, entre outras situações. O que mais chamava a atenção, no entanto, eram as tragédias anunciadas, como os desabrigados nos períodos chuvosos e os moradores de rua que morriam de fome e frio. Em alguns casos, prestávamos socorro no próprio veículo da reportagem. Isso ainda acontece por aí. Uma vergonha nacional. As viagens pelo Brasil com a equipe de esportes da Sociedade também contribuíram para sua base de formação profissional? Além do que nos proporcionou uma boa rede de amigos pelo país. Hoje, as equipes de esportes já não viajam com a mesma frequência. A Rádio Sociedade já não é a mesma. Na época de Dom Pedro Irujo a gente era mesmo feliz e não sabia? É verdade. Trabalhávamos numa Emissora de Rádio respeitável, com os melhores profissionais, líder de audiência, bons salários, pagos rigorosamente em dia... O que queríamos mais? No entanto, a vida é assim mesmo - nunca estamos satisfeitos com o que temos, até que perdemos e sentimos falta do que tinhamos. Não podemos deixar de fazer uma menção honrosa á Rádio Excelsior, que apesar das deficiências técnicas na época, tinha uma equipe de boa qualidade não só no jornalismo mas também no esporte. Assina embaixo? Assino, sim. Depois da Rádio Sociedade eu trabalhei na Excelsior ao lado de grandes profissionais. Fale um pouco sobre o rádio cearense. É competitivo? Existe mesmo qualidade ou também está dominado por grupos políticos e religiosos a exemplo do que ocorre na maior parte do Brasil? Aqui não está muito diferente do que estamos (com tristeza) presenciando no geral. De um lado, os interesses políticos desviam o rádio do seu verdadeiro objetivo, que é informar com imparcialidade, principalmente dando voz às classes mais desprotegidas; do outro, os interesses religiosos eliminam o caráter profissional das emissoras. Para completar, o famigerado "horário pago" abre espaço para os oportunistas e "mata" alguns profissionais que preferem faturar bem em outras áreas a "pagar" para trabalhar. Qual o futuro do rádio AM; vai resistir mais algum tempo ou só falta mesmo fechar a tampa do "caixão"? Mesmo contra a vontade dos malfazejos, o rádio AM vai continuar respirando, porque, depois da televisão, é o veículo de maior interatividade. A TV já está fazendo o que o rádio (de interesses) não faz mais, mas ninguém consegue ficar olhando o tempo todo para a tela. Nem mesmo a internet pode vencer o rádio - no máximo, pode se aliar ao rádio, como já ocorre. Os malfazejos podem, sim, ao longo do tempo, provocar o desaparecimento da arte no rádio. Já pensaram num rádio robotizado? As duas principais equipes do futebol cearense continuam fora da elite do futebol brasileiro; o mesmo ocorre com o Bahia. O que falta para que essas agremiações possam proporcionar alegria ao torcedor? Falta profissionalismo e seriedade. É bom fazer festa com o dinheiro alheio, não é? Nada vai mudar enquanto os dirigentes não prestarem contas, como nas empresas, e continuarem a pagar altos salários a jogadores "pernas-de-pau", entre outras mutretas. O futebol não acompanhou a chamada globalização organizacional. Dessa forma, um negócio que gira muito dinheiro é tratado como bodega e embalado com papel de embrulho. Os mais espertos ganham muito dinheiro e o torcedor, que paga a conta, geralmente é enganado - como marido traído. Além do rádio, você é também empresário na ensolarada capital cearense. Tem até comunidade no Orkutismo: "Lacerda's Bar"... Foi uma brincadeira de um amigo, quando tinhamos uma pequena lanchonete, mas não resisti às intempéries do tempo e fechei as portas. A atividade comercial nos proporciona bons aprendizados, mas é muito cansativa e, às vezes (meu caso), pouco lucrativa. Aí, é melhor cair fora. E as mulheres cearenses; são mesmo bonitas e receptivas? Você está sabendo muito. Aliás, o Ceará, em termos de mulher, se assemelha a Belo Horizonte: Está sobrando mulher. Seja bem-vindo e não ficarás sozinho. O que pega nessa questão é o turismo sexual. Fortaleza vem se notabilizando internacionalmente diante de tal modalidade. Vários fatores contribuem para essa degradação humana, chamada de turismo sexual, como forma de fugir do real. A pobreza, a falta de educação religiosa, a falta de educação acadêmica, a falta de emprego e a falta do mínimo de dignidade levam crianças à prostituição, em plena luz do dia, em pontos turísticos da cidade. Na verdade, elas vêm seguindo a tradição, em muitos casos, de parentes e amigas que terminaram casadas com um "gringo" ou conseguiram uma fácil "mesada", depois de uma gravidez maldosamente planejada. As autoridades falam em fiscalização severa, mas a realidade é muito dura e penosa. O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, disse certa ocasião que Fortaleza é "um puteiro a céu aberto". Ele tem com razão ou perdeu oportunidade de ficar com o bico calado? Você sabe como essas coisas funcionam. Se fosse uma conversa de botequim ninguém diria nada. Mas era uma conversa diante dos holofotes da imprensa. Diríamos que ele não foi politicamente correto e usou palavras duras e verdadeiras. A sociedade (que Cazuza odiava) prefere as palavras rebuscadas e as mentiras. Eu fico indignado quando vejo a prostituição que a fiscalização não vê. Mulheres pobres e ricas vivem da mesma prostituição. A diferença entre elas está nos meios utilizados para chegar aos estrangeiros inescrupulosos e indiferentes à lei. Tudo lamentável. Do ponto de vista musical tem surgido algo de interessante no Ceará, ou aí também o povo está dominado pela mídia e só ouve a mais fétida das podridões sonoras? São poucas as opções que não machucam nossos ouvidos. A poluição sonora está presente nos quatro cantos da cidade. Para não ferirmos os ouvidos temos que nos valer das poucas opções que ainda sobrevivem aos impérios do mal gosto. O dial das FM's é uma poluição só. Nos clubes, bares e restaurantes a situação é ainda pior. Somos olhados como ETs quando ousamos solicitar alguma opção que não seja herança do forró Mastruz com Leite. Postado por Marcos Niemeyer às 17:30

    Um comentário:

    HJ Notícias disse...

    Olá Lacerda. Grande estreia no Racha da Amizade. Um abraço, Irapuan Moreira: http://hjnoticias.blogspot.com/