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    quarta-feira, 2 de setembro de 2009

    O DOPING DE MARADONA: EU ESTAVA LÁ (HISTÓRIA Nº I)

    A cobertura da Copa do Mundo de 1994, na cidade de Dallas, no Texas, Estados Unidos da América, me recompensou pelos outros mundiais que não tive oportunidade de cobrir. Foi uma competição rica em fatos, recordes, inovações tecnológicas e até mudanças no regulamento. Mas os principais destaques não foram dignos de uma Copa do Mundo: o escândalo do doping de Maradona e o assassinato do zagueiro Escobar, da Colômbia, como castigo por ter feito um gol contra, entre outros episódios desagradáveis. Não tivemos sossego na cobertura dos fatos.
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    Ao lado do narrador Jair Cezarinho, meu comandante, dormia pouco para driblar o fuso horário, comia muito frango com fritas e pizza com Coca-Cola, sucrilhos com leite e saduiches. Engordei alguns quilos. Chegávamos cedo (7h local = 10h no Brasil) porque tinhamos programa ao meio-dia. Saíamos tarde (nunca antes das 21h local) porque tinhamos programa noturno ao vivo e deixávamos boletins gravados para a programação da madrugada e manhã seguintes.
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    Além dessa rotina estafante ainda tinhamos as narrações dos jogos da Seleção Brasileira para a Rádio Carioca de Feira de Santana (BA). E se não fosse essa rotina, dificilmente estaríamos lá, no Centro de Imprensa, quando o então secretário-geral da Fifa, Joseph Blatter, convocou os repórteres para uma entrevista coletiva, cujo assunto não se fazia a menor idéia.
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    Final de tarde, com o sol no horizonte (em junho só escurece depois das 22h local), corredores quase desertos por causa de um tentador convite do Comitê da Fifa para um show do cantor Julio Iglesias. Jair Cezarinho ainda recebeu nossos convites, mas estávamos suados, cansados e famintos (o calor beirava os 40° naqueles dias). Vários colegas já haviam ido embora. Decidimos voltar para casa, de ônibus. Seria uma boa folga na piscina do condomínio em que ficamos hospedados.
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    Para nossa surpresa, havia um corre-corre próximo a um dos anexos do CI. Fiz perguntas, ninguém sabia nada. Chamei o Jair e entramos no salão. Blatter já estava falando. Liguei o gravador e veio a bomba: "Diego Armando Maradona, jogador da Argentina, jogou dopado, no dia 25 de junho, na vitória de 2 x 1 sobre a Nigéria. O exame antidoping constatou a presença de efedrina natural e mais quatro derivados sintéticos".
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    Não acreditei. Ninguém acreditava naquela notícia. Prosseguia o comunicado: "Essas substâncias agem sobre o sistema nervoso central e circulatório, com o efeito de melhorar os reflexos, aumentar a oxigenação do sangue e diminuir a sensação de fadiga". Segundo o laudo da Fifa, Maradona tomou os estimulantes numa dosagem entre cinco e dez vezes mais alta do que a dosagem da substância quando usada como descongestionante. Informou ainda que as drogas foram ingeridas no dia do jogo.
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    Maradona estava suspenso, preventivamente, e a World Cup seguia. Foi uma correria de volta aos estúdios do CI. Muitos colegas tomaram o furo (jargão jornalístico). Deu até punição para aqueles, cujos chefes não permitiram a troca (involuntária) da bombástica notícia pelo show de Iglesias. Eu e Jair perdemos o show e ganhamos muito trabalho. Folga suspensa.
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    Até hoje Maradona jura inocência. Na época, chegou a dizer: "Juro pelas minhas filhas que não me dopei para jogar". Não adiantou. Ficou suspenso até setembro de 1995 e recebeu uma multa de US$ 15.400. Foi o terceiro caso de doping em mundiais. Em abril de 95, o jornalista argentino, Fernando Niembro, lançou o livro "Inocente", com a teoria "hóstia do padre", segundo a qual os argentinos comungaram numa igreja, em Boston, onde teria havido uma conspiração da CIA contra Maradona, que se envolvera com drogas e defendia o cubano Fidel Castro.
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    Também foi duro entrevistar um cronista da Rádio Caracol de Colômbia na manhã seguinte ao assassinato do zagueiro Escobar. A Colômbia era apontada como favorita, mas foi eliminada pelos anfitriões EUA, por 2 x 1, com um gol contra de Escobar. Ao voltar para casa, foi assassinado a tiros. Até o cronista temia pela sua volta. Eu estava lá.

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