Sabe aquele momento em que você precisa de uma força para resolver alguma situação. Não importa de que forma venha a ajuda ou de quem venha a ajuda. Depois, o alívio e a eterna gratidão. Nas andanças pelo mundo da bola ocorrem muitas situações assim. Lembro-me, agora, de uma "mão" dessas situações, entre tantas outras.
O baiano Raimundo Nonato Tavares da Silva tem uma paciência de elefante. Em 1992, quando tinha fama de goleador e vestia a camisa do Fluminense (RJ), já era assim, mesmo com o título de campeão brasileiro.
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O Bahia foi jogar nas Laranjeiras, estádio do Fluminense, numa noite em que a torcida pegava no pé dos jogadores. O Fluminense venceu e Bobô (foto) foi substituído no segundo tempo. Quase uma hora depois do encerramento do jogo fui ao vestiário e lá estava Bobô, sentado, solitário, com uma camisa suada nas mãos.
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Não acreditava mais que o encontraria. E só fui lá por insistência do narrador Ivanildo Fontes, com quem transmiti o jogo naquela noite, torcedor do Fluminense, a quem Bobô havia prometido a lembrança. Paciência incomum às estrelas.
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O catarinense Vitalino Adolfo Barzotto, hoje com 46 anos, tem uma fisionomia diferente em relação àqueles 29 anos, em 1992, quando jogava no Criciúma (SC). A forma gentil de ser é que não mudou.
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De novo, eu e Ivanildo Fontes escalados para a cobertura do jogo Criciúma x Vitória, num domingo frio, em Criciúma. Na manhã do sábado, véspera do jogo, resolvemos caminhar até o estádio Heriberto Hülse. Lá, soubemos que o craque do time acabara de deixar a concentração. O meia Grizzo (foto) estava sendo contratado pelo Bahia. Uma notícia bombástica!
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Nos informamos e corremos até o apartamento do Grizzo. Ele já estava de saída, mas não nos negou atenção nem a informação. Ainda não tinhamos telefone celular. Tinhamos a notícia e o programa esportivo ao meio-dia. Orientamos a produção, usamos o telefone do próprio Grizzo e demos um banho de audiência na concorrência. Infelizmente, Grizzo não deu certo no Bahia.
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O paranaense Agnaldo Cordeiro Pereira ficou conhecido nacionalmente pelos gols que marcou com a camisa do Vitória (BA), em 1996, e entre os cronistas criou um grande círculo de amizades pelo gosto de uma boa conversa.
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Em 2004, já veterano mas farejador das redes, foi contratado pelo Fortaleza. A apresentação aconteceu no estádio Presidente Vargas, numa noite de jogo do tricolor - não lembro-me qual. Eu estava na cabine da Rádio Globo, ao lado do narrador Júlio Sales, quando vi que o atacante Agnaldo Capacete (foto) estava subindo as arquibancadas. Ninguém o reconhecia.
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Avisei ao Júlio e foi ao encontro dele. Não poderia perder aquele momento propício para apresentar o artilheiro à sua nova torcida. Antes de solicitar a entrevista, fui surpreendido. Agnaldo abriu os braços e disse: "O que está fazendo aqui... você não é o Lacerda?". Foi um reencontro feliz.
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O outro baiano Alexandro Alves do Nascimento, sisudo, monossilábico, mas nunca negou-se a compartilhar de momentos extrovertidos. O sorriso curto e as comemorações exóticas para seus gols foram marcas registradas.
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Um belo fim de tarde, no início da temporada de 2008, eu estava chegando à emissora quando o telefone tocou. Era o companheiro Aloísio Lima, repórter setorista do Fortaleza, dizendo que tinha uma surpresa para mim, direto do Pici, onde ocorria o treino.
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Do outro lado da linha estava Alex Alves (foto), com o mesmo jeito acanhado de falar, sorriso curto, lembrando de detalhes daquele distante 1995, quando jogava no Vitória (BA). Numa hora dessas, a lembrança viva, a satisfação, o reconhecimento não têm preço.
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Como toda mão tem o dedo mindinho, essa não seria diferente. O terceiro baiano dessas relembranças, "quinto dedo", Marcos André Batista Santos é diferente dos outros. Jeito bonachão, bon vivant, sorriso largo, não é bom de memória.
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Como todo filho prodígio, sempre cuidou dos familiares e dos conterrâneos. Um dia, um homem puxou do bolso uma foto de Vampeta (foto) como se fosse uma imagem de um santo e confessou-me: "Tenho um barraco porque ele me deu. É meu sobrinho".
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Em Nazaré das Farinhas (BA), sua terra natal, comprou o único cinema da cidade, atendendo a apelo popular, para evitar que o prédio se transformasse numa dessas igrejas comerciais. Eu não tive a mesma sorte. Depois de vários anos, já no Corinthians (SP), cobrei minha camisa prometida pelo craque. A resposta foi curta: "Esta já prometi à minha tia". Nunca mais o encontrei.
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